Você já ouviu alguém dizer que o intestino é o “segundo cérebro”? Essa expressão é mais verdadeira do que parece. Cada vez mais estudos mostram que existe uma comunicação direta entre o intestino e o cérebro, conhecida como eixo intestino-cérebro — um sistema complexo que influencia o humor, o sono, o apetite e até o risco de desenvolver transtornos mentais como ansiedade e depressão.
Neste artigo, você vai entender como o intestino conversa com o cérebro, por que esse diálogo afeta suas emoções e o que você pode fazer para manter essa conexão saudável.
Como o intestino se comunica com o cérebro
O intestino é revestido por milhões de neurônios — cerca de 100 milhões, formando o chamado sistema nervoso entérico. Ele se conecta ao cérebro principalmente através do nervo vago, uma espécie de “via expressa” que transmite informações em ambos os sentidos.
Mas o intestino não fala apenas por nervos. Ele também se comunica por meio de hormônios, neurotransmissores e substâncias produzidas pelas bactérias intestinais (a microbiota).
Essas mensagens influenciam o comportamento, a memória, o humor e até as respostas ao estresse.
A microbiota: bilhões de aliados invisíveis
A microbiota intestinal é formada por trilhões de micro-organismos — bactérias, fungos e vírus — que vivem em equilíbrio dentro do intestino. Quando esse ecossistema está saudável, ele:
- Produz neurotransmissores como serotonina e dopamina, essenciais para o bem-estar.
- Regula a inflamação no corpo e no cérebro.
- Fortalece o sistema imunológico.
- Melhora a absorção de nutrientes e vitaminas.
Por outro lado, quando há desequilíbrio (disbiose) — causado por má alimentação, antibióticos, álcool, estresse ou sono ruim —, essa comunicação se desorganiza, favorecendo sintomas como ansiedade, fadiga, irritabilidade e até depressão.
O papel da serotonina
A serotonina é conhecida como o “hormônio da felicidade”, e cerca de 90% dela é produzida no intestino, não no cérebro.
Isso significa que, quando o intestino está saudável, ele ajuda a manter o equilíbrio emocional. Já quando está inflamado ou em disbiose, a produção de serotonina pode cair, impactando diretamente o humor e o sono.
Intestino, estresse e ansiedade
Durante o estresse, o corpo libera cortisol e adrenalina, que alteram o fluxo sanguíneo e o funcionamento intestinal. Isso explica por que muitas pessoas sentem desconforto, dor abdominal ou diarreia em momentos de tensão.
Além disso, o estresse crônico pode alterar a microbiota intestinal, criando um ciclo vicioso: o intestino desregulado piora o humor, e o humor piora o intestino.
Como fortalecer o eixo intestino-cérebro
Cuidar desse eixo é investir tanto na saúde mental quanto na digestiva. Veja práticas comprovadas que ajudam a equilibrar essa conexão:
- 🥦 Tenha uma dieta rica em fibras e alimentos naturais
Frutas, verduras, legumes e grãos integrais alimentam as bactérias benéficas do intestino. - 🧘♀️ Reduza o estresse e pratique técnicas de relaxamento
Meditação, respiração e atividade física regular reduzem o cortisol e equilibram o eixo. - 💊 Considere o uso de probióticos e prebióticos
Alguns estudos mostram que determinadas cepas bacterianas melhoram sintomas de ansiedade e depressão — são os chamados psicobióticos. - 😴 Durma bem
O sono regula hormônios e o metabolismo intestinal. - 🚫 Evite ultraprocessados e excesso de álcool
Esses alimentos prejudicam a microbiota e aumentam a inflamação intestinal.
O futuro da psiquiatria e da nutrição integradas
O eixo intestino-cérebro está transformando a maneira como entendemos as doenças mentais.
Hoje, já se fala em psiquiatria nutricional, uma abordagem que combina alimentação, microbiota e neurociência para tratar sintomas emocionais.
Em um futuro próximo, é provável que exames da microbiota intestinal sejam usados como parte do diagnóstico e personalização de tratamentos em saúde mental.
Conclusão
O intestino e o cérebro mantêm uma conversa constante — e o tom desse diálogo depende dos seus hábitos diários.
Cuidar do intestino é, em parte, cuidar da mente. Pequenas mudanças no estilo de vida podem equilibrar esse eixo e trazer benefícios profundos para o bem-estar emocional, a clareza mental e a qualidade de vida.
Referências científicas
- Cryan, J. F. et al. The Microbiota-Gut-Brain Axis: From Neurodevelopment to Behavior. Nature Reviews Neuroscience, 2019.
- Mayer, E. A., Knight, R., Mazmanian, S. K. Gut Microbes and the Brain: Paradigm Shift in Neuroscience. Journal of Neuroscience, 2014.
- Foster, J. A., Neufeld, K. A. M. Gut–Brain Axis: How the Microbiome Influences Anxiety and Depression. Trends in Neurosciences, 2013.
- Dinan, T. G., Cryan, J. F. The Microbiome-Gut-Brain Axis in Health and Disease. Gastroenterology Clinics of North America, 2019.
- Carabotti, M. et al. The Gut-Brain Axis: Interactions Between Enteric Microbiota, Central and Enteric Nervous Systems. Annals of Gastroenterology, 2015.
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