Introdução
Você já percebeu que muitas pessoas com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) parecem viver em constante autocrítica? Esquecimentos, impulsividade e dificuldade de foco podem gerar frustrações que, com o tempo, abalam a autoestima.
Neste artigo, vamos entender por que o TDAH costuma vir acompanhado de baixa autoconfiança, como isso impacta a vida emocional e quais estratégias ajudam a reconstruir a autoimagem e o equilíbrio mental.
O Que Liga o TDAH à Baixa Autoestima?
O TDAH não é apenas um transtorno de atenção — ele afeta diretamente a forma como a pessoa se percebe e se avalia.
Desde cedo, indivíduos com TDAH enfrentam críticas constantes: “você não presta atenção”, “é preguiçoso”, “nunca termina o que começa”.
Com o tempo, essas mensagens negativas se transformam em crenças internas de incapacidade, corroendo a autoconfiança.
Pesquisas mostram que crianças com TDAH recebem muito mais feedbacks negativos do que positivos — tanto na escola quanto em casa — e isso molda uma autoimagem distorcida.
Elas passam a acreditar que são “menos capazes”, mesmo quando têm inteligência e criatividade acima da média.
Principais Causas da Baixa Autoestima no TDAH
1. Fracassos repetidos e críticas constantes
A dificuldade de manter foco ou cumprir tarefas leva a erros frequentes, punições e comparações injustas com colegas.
2. Impulsividade e arrependimento
A impulsividade pode causar comportamentos que geram vergonha, como falar demais, interromper ou tomar decisões precipitadas.
3. Problemas de desempenho escolar e profissional
A falta de organização e o esquecimento comprometem resultados, o que reforça o sentimento de “não ser bom o bastante”.
4. Rejeição social
A dificuldade em manter amizades estáveis ou lidar com frustrações pode gerar isolamento e sensação de inadequação.
Como a Baixa Autoestima se Manifesta
A pessoa com TDAH e autoestima abalada tende a:
- Duvidar de si mesma o tempo todo.
- Pedir desculpas excessivamente.
- Evitar desafios por medo de errar.
- Buscar aprovação constante.
- Ter pensamentos autodepreciativos (“sou um fracasso”, “nunca acerto nada”).
Esses padrões reforçam um ciclo emocional negativo: quanto mais a pessoa se cobra, mais ansiosa e desmotivada se sente — o que piora os sintomas do TDAH.
O Cérebro e a Autoestima no TDAH
Estudos de neuroimagem mostram que o TDAH está ligado a alterações no córtex pré-frontal (ligado ao controle e planejamento) e no sistema dopaminérgico (responsável pela motivação e prazer).
Quando há baixa dopamina, a sensação de recompensa e satisfação pessoal diminui — e isso afeta diretamente a autoestima.
Por isso, muitos pacientes descrevem uma sensação constante de “fracasso iminente”, mesmo quando estão indo bem.
Como Tratar e Recuperar a Autoestima
A boa notícia é que a autoestima pode ser reconstruída com o tratamento adequado e estratégias práticas.
💊 1. Tratamento psiquiátrico
O uso de medicamentos estimulantes ou não estimulantes (como metilfenidato ou atomoxetina) melhora o foco, a produtividade e a autopercepção, permitindo experiências de sucesso.
🧠 2. Psicoterapia
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma das mais eficazes.
Ela ajuda o paciente a reconhecer pensamentos negativos automáticos e substituí-los por crenças mais realistas e positivas.
📋 3. Estabelecimento de metas pequenas e alcançáveis
Cada tarefa cumprida com sucesso reforça o sentimento de competência.
Começar pequeno é essencial para reconstruir a autoconfiança.
💬 4. Rede de apoio
Família, amigos e grupos de apoio ao TDAH têm papel fundamental em oferecer acolhimento e reforço positivo.
🌱 5. Estilo de vida saudável
Sono regular, alimentação equilibrada e prática de exercícios ajudam a regular a dopamina e reduzir sintomas emocionais.
Transformando a Relação com o TDAH
Ter TDAH não significa ser menos capaz.
Pelo contrário — pessoas com o transtorno costumam ter altos níveis de criatividade, energia e pensamento inovador.
O segredo é aprender a usar essas características de forma consciente, sem deixar que erros do passado definam quem você é.
A autoestima cresce quando o paciente se reconhece como alguém em evolução, não em falha.
Referências Científicas
- Barkley, R. A. (2015). Attention-Deficit Hyperactivity Disorder: A Handbook for Diagnosis and Treatment. Guilford Press.
- Shaw, P. et al. (2012). Emotional lability in ADHD: Clinical correlates and familial prevalence. American Journal of Psychiatry, 169(2), 171–179.
- Hoza, B. (2007). Peer functioning in children with ADHD. Journal of Pediatric Psychology, 32(6), 655–663.
- APA. (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5).



