Introdução
Você já pensou por que algumas pessoas com Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) ficam travadas para tomar decisões — mesmo nas mais simples? Um estudo brasileiro de 2011 investigou exatamente isso e encontrou que esses pacientes apresentam prejuízo significativo no processo de decisão.
Neste artigo, você vai entender o que esse estudo descobriu, por que isso acontece, e como essas dificuldades afetam a vida de quem convive com TOC.
O estudo e seus principais achados
Objetivo da pesquisa
Os autores queriam saber se pessoas com TOC apresentam alterações no funcionamento da tomada de decisão, comparadas a indivíduos saudáveis, usando um teste chamado Iowa Gambling Task (IGT).
Como foi feito
- Participaram 214 pessoas: 107 com TOC e 107 controles saudáveis.
- Cada participante foi avaliado clinicamente e realizou o IGT — que é um teste psicológico que simula escolhas com risco e recompensa para mensurar a qualidade da decisão.
- Os pesquisadores também investigaram se sintomas de ansiedade ou outras características influenciavam o desempenho no teste.
O que encontraram
- Pacientes com TOC performaram pior no IGT do que controles saudáveis.
- Esse prejuízo não foi explicado pelos níveis de ansiedade ou depressão, ou por características demográficas — ou seja, parece ser algo ligado especificamente ao TOC.
- Os autores concluíram que tomada de decisão prejudicada pode ser uma característica importante no TOC e que grupos mais homogêneos seriam úteis para entender melhor esse fenômeno.
Por que isso importa?
Saber que pessoas com TOC podem ter dificuldade para tomar decisões não é apenas um detalhe técnico: tem impactos reais no convívio, tratamento e autoestima. Veja por que:
- Decisões cotidianas ficam mais difíceis: escolher algo simples — o que comer, onde ir, que roupa usar — pode causar sofrimento e paralisia.
- Tratamento pode ser afetado: se a pessoa demora ou evita escolher estratégias terapêuticas, isso pode atrasar melhora.
- Relacionamentos e vida social: demora para decidir ou insegurança pode gerar conflitos com familiares, amigos ou colegas.
- Autopercepção negativa: a pessoa pode sentir-se incapaz, julgada ou “menos” por sua dificuldade em tomar decisões.
O que pode ajudar
Embora o estudo não ofereça “soluções mágicas”, associando os achados com o que a literatura e prática clínica indicam, algumas recomendações úteis são:
- Psicoterapia focada em decisões: terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode trabalhar exercícios práticos para fortalecer a confiança e o processo decisório.
- Treinamento gradual de escolhas: começar por decisões pequenas, com menos risco, e progredir para decisões maiores, treinando tolerância à incerteza.
- Dividir a decisão em etapas: listar prós e contras, consultar pessoas de confiança, usar prazos pode tornar o ato de decidir mais manejável.
- Foco no aprendizado, não na perfeição: reconhecer que errar faz parte do processo e que aprender com escolhas equivocadas também é crescimento.
- Suporte social e psicoeducação: familiares e terapeutas podem ajudar, validando a dificuldade e evitando cobranças excessivas.
Conclusão
O estudo da Rocha et al. (2011) com DOI 10.1590/S0004-282X2011000500013 mostra que pacientes com TOC têm prejuízo na tomada de decisão, uma característica não relacionada simplesmente ao estado emocional de ansiedade, mas potencialmente parte do funcionamento neurológico do TOC.
Entender esse aspecto ajuda a humanizar o tratamento: não é “falta de força de vontade”, mas sim uma dificuldade cognitiva plausível. Se você convive com TOC ou conhece alguém que sofre com isso, buscar terapia especializada que inclua esse foco pode fazer diferença.



