O reflexo do emocional no couro cabeludo
A queda de cabelo é uma das queixas mais comuns nos consultórios e, muitas vezes, tem relação direta com o estresse físico e emocional.
Em períodos de tensão, o corpo reage de várias formas — e uma delas pode ser a interrupção temporária do ciclo natural de crescimento dos fios.
Ou seja, o estresse não afeta apenas a mente: ele também se manifesta visivelmente no corpo, inclusive nos cabelos.
Como o estresse causa queda de cabelo
O ciclo capilar é dividido em três fases: crescimento (anágena), repouso (catágena) e queda (telógena).
Quando o organismo passa por períodos de estresse intenso, o corpo libera hormônios como o cortisol e a adrenalina, que alteram esse ciclo natural.
O resultado é um quadro chamado eflúvio telógeno, caracterizado pela queda difusa e repentina dos fios.
Além disso, o estresse crônico pode aumentar processos inflamatórios, reduzir a circulação no couro cabeludo e até afetar o sistema imunológico — levando a condições como alopecia areata, onde o corpo ataca os próprios folículos capilares.
Principais tipos de queda de cabelo relacionados ao estresse
1. Eflúvio telógeno
É o tipo mais comum. Ocorre cerca de 2 a 3 meses após um evento estressante, como doenças, cirurgias, luto ou sobrecarga emocional.
Os fios caem em grande quantidade, principalmente ao lavar ou pentear o cabelo, mas tendem a voltar a crescer quando o equilíbrio emocional é restabelecido.
2. Alopecia areata
É uma doença autoimune em que o estresse atua como gatilho.
Provoca falhas arredondadas no couro cabeludo, sobrancelhas ou barba.
Em muitos casos, o cabelo volta a crescer espontaneamente, mas o tratamento médico ajuda a controlar a inflamação e prevenir novas áreas afetadas.
3. Tricotilomania
É um transtorno comportamental relacionado à ansiedade e ao estresse, no qual a pessoa arranca os próprios fios de forma compulsiva.
O tratamento envolve terapia cognitivo-comportamental e, em alguns casos, medicação para controle da impulsividade e ansiedade.
Outros fatores que agravam a queda
O estresse é um fator importante, mas raramente age sozinho.
Outros elementos que contribuem para a queda de cabelo incluem:
- Carência de ferro, zinco e vitaminas do complexo B
- Alterações hormonais (tireoide, pós-parto, menopausa)
- Uso de medicamentos
- Dietas restritivas
- Sono irregular e sedentarismo
Por isso, é fundamental que a avaliação médica seja completa, abrangendo exames laboratoriais e análise do couro cabeludo.
Como tratar e prevenir a queda causada pelo estresse
O tratamento deve focar tanto na saúde emocional quanto na saúde capilar.
Entre as medidas mais eficazes estão:
1. Controle do estresse
- Terapia psicológica (TCC e técnicas de relaxamento)
- Prática regular de atividade física
- Sono de qualidade
- Meditação e respiração consciente
Essas estratégias reduzem os níveis de cortisol e favorecem o retorno do ciclo capilar ao normal.
2. Cuidados nutricionais
Manter uma alimentação equilibrada, rica em ferro, zinco, biotina e proteínas, é essencial para o crescimento saudável dos fios.
3. Tratamentos dermatológicos
O dermatologista pode indicar:
- Suplementos específicos
- Loções estimulantes com minoxidil
- Terapias com LED ou microagulhamento
- Medicamentos orais, quando necessário
4. Evite hábitos que fragilizam os fios
Reduzir o uso de químicas agressivas, calor excessivo e penteados muito apertados ajuda na recuperação dos cabelos.
Quando procurar um médico
Se a queda de cabelo durar mais de três meses, for muito intensa ou vier acompanhada de falhas visíveis, é hora de procurar um dermatologista.
Em casos com sintomas de ansiedade, insônia ou irritabilidade, a avaliação psiquiátrica também é importante — afinal, tratar o estresse é tratar a causa.
Conclusão
O cabelo é um espelho da saúde física e emocional.
Quando o estresse ultrapassa o limite, o corpo fala — e os fios sentem.
Cuidar da mente, do sono e da alimentação é tão importante quanto usar bons produtos.
Equilíbrio emocional é o melhor cosmético que existe.
Referências científicas
- Hadshiew IM, Foitzik K, Arck PC, Paus R. Burden of hair loss: stress and the hair follicle. Experimental Dermatology, 2004.
- Trueb RM. Stress and hair loss: areview. Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology, 2003.
- Peters EMJ et al. Neuroendocrine regulation of hair growth and the hair follicle as a target of stress hormones. Experimental Dermatology, 2006.
- Gathers RC, Lim HW. Alopecia areata: update on diagnosis and management. Journal of the American Academy of Dermatology, 2010.



